Quando entrei no mundo da publicidade digital, imaginei estar embarcando em uma viagem emocionante pelos mares da criatividade e inovação. Nunca pensei que um dia me veria à deriva, lutando contra uma tempestade de bits e bytes que ameaçaria afundar não apenas meu negócio, mas toda uma indústria.
Meu nome é Eduardo Pinotti, CEO da Difusa Propaganda e Marketing, e em novembro de 2023, fui atingido por um tsunami digital que mudou para sempre minha visão sobre a urgência de regulamentar as redes sociais.
Tudo começou em uma noite comum. Eu estava prestes a desligar o computador quando recebi uma notificação que gelou meu sangue: nossas contas haviam sido acessadas de uma localidade nos EUA. Num piscar de olhos, meu mundo virou de cabeça para baixo.
Imediatamente, tentei acessar as contas, mas o cenário era pior do que eu poderia imaginar. O e-mail principal havia sido trocado, assim como o nível de permissão de todos os usuários. Era como se tivéssemos sido trancados para fora de nossa própria casa digital. Tínhamos acesso, sim, mas estávamos de mãos atadas, incapazes de interferir ou bloquear os novos usuários que, naquele exato momento, passavam a cometer golpes através das contas invadidas.
As horas seguintes foram um frenesi de ligações e mensagens desesperadas. Por sorte, conseguimos cancelar alguns cartões, mas os saldos pré-pagos foram consumidos em minutos. Era como assistir a uma sangria financeira em tempo real, impotentes para estancá-la.
“Como isso é possível?”, perguntava-me incrédulo. Afinal, tínhamos todos os recursos de segurança em dia. Era como se tivéssemos trancado todas as portas e janelas, apenas para descobrir que os invasores tinham a chave mestra.
Os dias que se seguiram foram um pesadelo. Incontáveis e-mails, ligações infrutíferas para o suporte, noites em claro tentando entender o que havia acontecido. O pior? Ouvir do próprio suporte que eles eram incapazes de resolver o problema. Foi nesse momento que percebi: estávamos navegando em águas perigosas sem um farol para nos guiar.
Os prejuízos foram além do financeiro. Vi a confiança de clientes, construída ao longo de anos, ser corroída em questão de dias. Senti na pele o que significa ter seu trabalho, sua paixão, ameaçados por um vazio regulatório que permite que invasões como essa aconteçam sem consequências reais para os responsáveis.
Embora eu trabalhe com parceiros remotos e não tenha empregados diretos, a realidade é que quando empresas são atingidas por esses ataques, empregos são ameaçados. Imagino o peso dessa insegurança para empresários que têm funcionários dependendo deles. É uma responsabilidade esmagadora em um cenário já tão incerto.
Após nove meses de batalha incansável, finalmente conseguimos recuperar as contas. Mas as cicatrizes permanecem. Cada notificação, cada e-mail, cada login agora vem acompanhado de um frio na espinha. Será que estamos realmente seguros?
Esta experiência me fez perceber que não podemos mais navegar às cegas. A regulamentação das redes sociais não é apenas uma questão de política ou de negócios – é uma necessidade urgente para proteger empresas, empregados e usuários comuns.
O que torna esta situação ainda mais alarmante é a complacência que temos demonstrado com as big techs. Essas empresas não são apenas gigantes tecnológicos; elas se tornaram entidades com poder para interferir em governos e moldar a opinião pública. O que vemos é uma permissividade perigosa com as fake news e uma relutância em assumir responsabilidades reais. O caso do META é particularmente preocupante: a ameaça de suspender os mecanismos de verificação é nada menos que um ataque à verdade e à segurança online. Estamos testemunhando uma escalada de toxicidade nas redes sociais, onde a desinformação floresce e a verdade se torna uma commodity negociável.
Não podemos mais nos dar ao luxo de sermos espectadores passivos enquanto essas corporações moldam nosso ambiente digital de acordo com seus interesses. A regulamentação não é apenas necessária; é urgente. Precisamos de leis que responsabilizem essas empresas, que as obriguem a priorizar a segurança e a veracidade sobre o lucro. O poder que elas detêm sobre nossa sociedade digital exige um nível correspondente de responsabilidade e prestação de contas.
Como alguém que vivenciou em primeira mão os danos que podem ser causados pela falta de regulamentação, faço um apelo: é hora de exigirmos mais. Mais transparência, mais segurança, mais respeito pela verdade. As big techs não podem continuar operando como se fossem imunes às consequências de suas ações e políticas. O futuro de nossa democracia, nossa segurança online e a integridade de nossa esfera pública digital estão em jogo.
Precisamos de leis que estabeleçam responsabilidades claras para as plataformas de redes sociais. Precisamos de mecanismos de suporte eficientes e de protocolos de segurança robustos. Mais do que isso, precisamos de um compromisso coletivo com a segurança e a ética no mundo digital.
Como publicitário, sempre acreditei no poder da comunicação para transformar realidades. Hoje, uso minha voz e minha experiência para clamar por mudança. Convoco meus colegas de profissão, empresários de todos os setores e cada usuário de redes sociais a se unirem nesta causa.
A regulamentação não é o inimigo da inovação ou da liberdade digital. Pelo contrário, é o farol que precisamos para navegar com segurança neste vasto oceano de possibilidades que é a internet.
Minha história é um alerta. Um chamado à ação. Porque no final das contas, o futuro do nosso mundo digital está em nossas mãos. E eu, por um, estou determinado a lutar por um ambiente online mais seguro e justo para todos.
Juntos, podemos e devemos exigir mudanças. Porque a próxima tempestade digital pode estar se formando agora mesmo, e nenhum de nós está imune. A pergunta é: estaremos preparados quando ela chegar?